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Você está pronto para a viagem dos seus sonhos?

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Viajar: está aí um sonho acalentado por tantos. Não é de hoje que rodar o planeta explorando novas culturas e adquirindo experiência de vida encabeça a lista de sonhos de consumo dos brasileiros.

Segundo uma pesquisa feita pelo SPC Brasil, em parceria com o portal de Educação Financeira Meu Bolso, 35,5% dos entrevistados revelou que ainda não havia concretizado o desejo de viajar. O estudo ainda indica que para 89% das pessoas, o principal impedimento para realizar o sonho número 1 dessa wish list é a questão financeira.

Engana-se quem pensa que para fazer uma longa viagem é preciso de muito dinheiro. A palavra de ordem, para isso, é: planejamento. Organizar-se para atingir o objetivo vai tornar o processo possível. Sem dúvida, a dedicação vale a pena.

E essa afirmação é chancelada pelo jornalista Ike Weber, expert em expedições de longa duração. Tanto que recebeu o título de “viajante profissional”. Durante cinco anos, Ike renunciou à estabilidade profissional e familiar para realizar um desejo que lhe acompanhava desde criança.

Nesse período, realizou quatro expedições internacionais com duração de meses, com retornos esporádicos ao Brasil. Foram muitas as passagens marcantes vivenciadas por ele, em países como Coreia do Norte, Bielorrúsia, México e Alaska. Os relatos da primeira aventura foram reunidos no livro “De Mochila pelas Américas: Histórias, Reflexões e Experiências”.

O jornalista contemplando a paisagem nos Montes Tatras, na Polônia. (Foto: acervo pessoal)
Na entrevista exclusiva ao Portal Rodoviariaonline, Ike compartilha o conhecimento acumulado durante os anos na estrada, dando dicas preciosas para quem quer adotar esse estilo de vida.

– O que te motivou a se tornar um viajante profissional?

A princípio, a realização de um sonho de infância: viajar por um longo período, sem data para voltar. Viajar além do turismo, das férias, dos períodos determinados. Fui crescendo, encontrando o meu caminho profissional, me desenvolvendo, até que chegou um momento em que pensei: a principal parte da vida passamos estudando, trabalhando, constituindo família, criando filhos…

E o sonho, quando será vivenciado? Parei tudo e caí na estrada. Transformei o projeto pessoal em profissional, uni as duas coisas, e parti para a primeira expedição jornalística, cultural e de aventura, de longo prazo.

– Como foi o processo de planejamento para a primeira viagem, tanto na parte prática (finanças, vistos, emprego, família) quanto mental/psicológica?

A primeira viagem de longo prazo é a mais complexa, porque, além de romper com o cotidiano tradicional, exige um primeiro planejamento, geralmente sem qualquer noção de rota, demandas, custos, organização financeira etc. Fiz um pré-planejamento, em primeiro lugar, uma espécie de roteiro inicial, definindo a região e os principais países que iria percorrer.

Assim escolhi o tema, o conceito da primeira expedição: De Mochila pelas Américas. A ideia era cruzar, por terra e água, do Brasil até o Norte do Alaska, circulando com calma, pelas Américas do Sul, Central e do Norte. O roteiro, na prática, nunca segue o original. Viajar com calma significa parar por mais tempo, estender percursos, desviar a rota.

O único visto necessário seria o norte americano, que eu já tinha, com validade de 10 anos. Os demais podiam ser obtidos na fronteira. Há muitos países mais difíceis e burocráticos, como a China ou a Coreia do Norte, o que demanda planejamento mais rigoroso.

A dificuldade maior é se desvencilhar, abrir mão do trabalho, no meu caso, um posto elevado de executivo, na área da Comunicação e conciliar a ausência com a família. Minha esposa, na época, foi me visitar por quatro vezes, ao longo da jornada.

– Em sua primeira expedição, você cruzou as Américas, do Peru ao Alaska, usando transporte multimodal. Quais foram os tipos usados e, entre eles, os mais inusitados? Usou ônibus em alguns trechos?

Sem dúvida, os mais inusitados foram o caiaque oceânico, entre as geleiras do Alaska, e o cavalo, por penhascos e deserto, no México. Mas teve de tudo: carona, vários trechos de ônibus, os mais diversos tipos de “lotação” ou transporte local, bicicleta, longas caminhadas, canoas, ferry boats, trens, até o conforto do carro alugado, nos EUA.

Ike aventurando-se num caiaque oceânico, entre as geleiras do Alaska. (Foto: Acervo pessoal)
– Como você se organizava financeiramente durante as expedições?

A organização financeira parte de quanto temos e estamos dispostos a gastar, do nível de privação ou conforto. Estipulei um valor por dia, na época o dólar estava bastante acessível, e procurei seguir o estipulado. América do Sul e Central são muito baratas, EUA é muito mais caro, a começar pela necessidade de alugar um carro para cruzar as regiões do meio e centro Oeste. Movimentação, por cartão de débito internacional, às vezes, de crédito.

– O que se deve priorizar na bagagem e o que é completamente desnecessário, para uma viagem “mochilão”?

Poucas roupas e básicas, de acordo com o clima da região. Fica mais fácil e simples se todo o trajeto será com frio ou com calor. Com temperaturas variáveis, em longo prazo, é preciso levar do calção ao casacão, mas uma peça de cada. Outra opção é não levar roupa de frio e comprar jaqueta no caminho. Sempre um chinelo, bota para trilhas e um tênis. De resto um guia, ou alguma leitura, computador/câmera/celular, dependendo do interesse do viajante. O que for percebido como excesso pode ser doado ou despachado, ao longo do caminho. Uma mochila de 70 litros é um bom tamanho.

– Do ponto de vista comportamental, qual é o perfil pessoal que um estilo de vida como esse exige?

Para uma única viagem de longo prazo, o perfil mínimo é estar aberto ao novo, às aventuras e perrengues, que certamente existirão. Para gastar pouco e viabilizar a expedição, estar disposto a dormir em hostels, preparar a própria comida e/ou aceitar bem comida de rua, usar transporte público, evitar luxos, compras etc. Viajar é muito diferente de fazer turismo.

Para ter longas expedições como estilo de vida, aí é preciso muito mais: desapego material e emocional; o mínimo de conciliação familiar, ou não ter família; aceitar muito bem o risco, a vida sem garantias ou seguranças; espírito de aventura; extrema adaptabilidade etc.

– Entre as suas inúmeras vivências, pode citar uma das mais marcantes em sua vida?

Fiz quatro expedições de longo prazo, todas extremamente marcantes, satisfatórias, gratificantes e, também, com muitas dificuldades. Além da jornada pelas Américas, estive pelo Sudeste Asiático e China; realizei a Expedição Extremo Oriente, pelas duas Coreias, Taiwan e extremo Oeste da China; e a porção mais raiz, mais soviética, do Leste Europeu. Impossível selecionar uma só. Exerci essa forma de vida por cinco anos, intercalando cada jornada de meses ou ano, com retornos ao Brasil. Agora, retornei ao mercado de trabalho, por algum tempo, mas, no curto ou médio prazo estarei viajando novamente.

Durante a expedição na Coreia do Norte, um dos países mais restritos aos viajantes do mundo. (Foto: acervo pessoal)
– O que foi mais difícil a readaptar-se no retorno das expedições?

Quando fiquei pela primeira vez um ano viajando, a volta foi um choque. Para mim, havia se passado uma década, mas por aqui, tudo seguia exatamente igual. Os ritmos não se conectavam, isso é muito difícil. Fora que adaptar-se à uma rotina tradicional de trabalho e de atividades corriqueiras, para quem vivencia uma expedição longa, é trabalho árduo.

– Como as viagens mudaram a sua forma de ver o mundo?

Sempre fui muito aberto a outras culturas, formas de vida distintas e à diversidade. As longas viagens sacramentaram a convicção de que a busca pelo sonho é tão importante quanto à busca pelo pão. Não me convence o formato tradicional de vida, de formar-se e preparar-se para uma carreira profissional e/ou para criar e manter uma família. De viver para pagar contas ou para acumular posses. Enfim, qual o teu sonho?